Myrtus communis – Murta

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Murta

ABREVIADO

A murta é a única espécie da família Myrtaceae nativa da Europa. É um arbusto típico da flora e do clima mediterrânico; muito aromático e com excelente adaptação à fraca pluviosidade e ao estio. Geralmente mal atinge 5 metros de altura, mais comummente entre 1 e 3 m, que na Primavera se cobre de flores brancas com numerosos e compridos estames. Provavelmente que a brancura e o perfume das flores de murta, favoreceram a sua utilização no arranjo de coroas e de ramos de noivas em várias partes da Europa. De entre os numerosos nomes dados a esta planta em português, temos murta-das-noivas, flor-do-noivado, por exemplo. A ligação da murta com a fertilidade ou “amor”, está também claramente explicitada na origem mítica deste arbusto com Vénus, que como sabemos é a deusa do Amor.

 

Família: MYRTACEAE

Nome científico: Myrtus communis L.

Publicação: 1753

Grupo: folhosa perene

Nomes vernáculos: murta, murteira, mirta, mirto, murtinho, murtinheira, martunheira, mata-pulgas, murta-das-noivas, flor-do-noivado, murta-do-jardim, murta-cheirosa, murta-ordinária, murta-comum, gorreiro, trovisqueiro

Hábito: arbusto aromático perenifólio de 1 a 5 m de altura com caule erecto muito ramificado desde a base. Copa irregular, frondosa, com ramos ascendentes, numerosos e densos. Rebentos do ano anterior pubescente-glandulosos, tornam-se depois glabros. Um ou vários troncos com ritidoma castanho-avermelhado, acabando por se tornar acinzentado e que ao escamar com a idade, revela a cor ruivacenta da casca. Forma naturalmente moitas quase impenetráveis.

 

Folhas: aromáticas, opostas, por vezes com 3 folhas por nó, com 2-5 cm por 1,5 cm de largura; simples, inteiras, ovado-lanceoladas, agudas; quase sésseis, uninérveas, coriáceas, lustrosas, sem pêlos ou com um conjunto de pêlos fracos nas nervuras da página inferior; numerosas pontuações glandulares no limbo; verde-escuras na página superior e verde-claras na inferior.

Flores: hermafroditas, solitárias, também aromáticas de 2-3 cm de diâmetro; longamente pedunculadas, axilares, com duas bractéolas caducas; sépalas persistentes, livres, ovadas e agudas; 5 pétalas brancas ou rosadas, de forma orbicular a obovadas, geralmente ciliadas e numerosos estames compridos. O cálice é constituído por sépalas triangulares persistentes, livres, ovadas e agudas; as anteras são ovóides e amarelas, o estilete é filiforme e o estigma é truncado. Os botões das flores são esféricos.
A floração vai de Abril-Maio a Agosto. Certas variedades podem apresentar floração tardia no princípio do Outono.

Frutos: baga pouco carnuda, elipsóide a quase globosa de 12-14 mm de comprimento por 7 mm de diâmetro, coroada por duas sépalas persistentes, sem pêlos, negro-azulada e pruinosa até à maturidade. As numerosas sementes são reniformes, rugosas e de cor castanho-esbranquiçado. Fruto comestível que amadurece a partir de finais de Agosto.
De notar que algumas variedades, como a var. Leucocarpa, produz frutos brancos e não azulados.

Gomos: pequenos e acastanhados.

Ritidoma: liso e avermelhado nos ramos jovens; com o tempo assume uma cor acinzentada e acaba por escamar; as placas do ritidoma ao caírem revelam a cor arruivada da casca.

 

Habitat: arbusto de plena luz ou de meia-sombra; aprecia os climas quentes e as terras pobres em matéria orgânica; a murta tolera todo o tipo de substrato, inclusive os pobres em calcário, desde que secos e bem drenados, mas com alguma humidade. Suporta ventos marítimos e ocasionalmente temperaturas negativas até –9°C; no entanto, o gelo queima os rebentos do ano a partir de –6°C. Ocorre em matos e matagais xerofíticos, em orlas ou sob coberto de bosques e povoamentos florestais abertos, sebes e charnecas; por vezes ripícola. Raramente excede os 500 m de altitude.
Planta mediterrânica de grande longevidade, podendo viver até 300 anos. Tem crescimento algo rápido nos primeiros anos de vida, mais lento depois
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Propagação: por semente durante o Inverno; por mergulhia; por chanta em Junho e Julho, ou por estaca em Novembro.

 

Distribuição geográfica: a murteira é um arbusto nativo do sudoeste da Europa e do Norte de África. Mais amplamente é originária da bacia do Mediterrâneo, onde se encontra com frequência nas zonas costeiras europeias e norte-africanas.

Em Portugal: arbusto comum no centro e sul do País, sendo mais raro a norte do rio Mondego, excepto o vale do Douro e seus afluentes (Terra Quente Trasmontana). Fora também introduzida nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, onde se assilvestrou. Na restante Península Ibérica, encontramos a murta no sudoeste e litoral mediterrânico.

 

Usos: é um arbusto rústico utilizado em jardins e sebes. Tem pouca exigência em cuidados, rega e qualidade do solo. Tolera altas temperaturas e verões secos. Aceita a pode e topiária. Ao plantar a murta no seu jardim, terá o prazer da vista e das fragrâncias que toda a planta exala. Saiba também que o néctar das suas flores, muito melíferas, alimenta inúmeros insectos polinizadores e os frutos aves ou pequenos mamíferos, que em volta disseminam a murta. O todo é uma aliança, que favorece a biodiversidade.


A madeira da murta, apesar de ter pequenas dimensões, é considerada como uma madeira nobre. Possui um grão fino, é dura e elástica. Características que a tornam muito apreciado em embutidos, tornearia e marcenaria. Com ela fabricam-se pequenos objectos como bengalas, cabos de ferramentas e partes de móveis de valor.

 

 

 

numerosas utilizações da murta

Raras são as plantas com tantas aplicações e usos como a murta, para além de ornamental, possui aplicações em vários domínios, a estas junta-se a carga simbólica que acarreta através o mito de Myrrha.
Os frutos designados por mastruços ou murtinhos são comestíveis e utilizados na culinária italiana, onde aromatizam guisados e molhos. Na cozinha portuguesa, utiliza-se as folhas como o loureiro de modo a realçar carnes de sabor forte, como o borrego. Também com as bagas de murta se pode elaborar, compotas e licores, como o famoso licor ou digestivo “Arrabidine”; licor tradicional da Arrábida, inventado pelos monges da serra do mesmo nome.
Em perfumaria, o óleo essencial extraído das suas folhas (cujo aroma se assemelha ao da flor da laranjeira), entra na composição de numerosos perfumes e cosméticos, nomeadamente a “Água-de-Anjo”, perfume popularizado pelos Médicis, e que teve grande sucesso no século XVII e parte do século seguinte.
Como planta medicinal, possui propriedades como anti-séptica, desodorizante e anticatarral.
Por fim, é extraído da casca, raízes e folhas, taninos, utilizados na indústria dos curtumes.

 

O mito de Myrrha

Na cultura clássica, a murta era uma planta sagrada, na qual gregos e romanos viam o símbolo da Paz e do Amor; por extensão era também o símbolo da juventude, da beleza e da fecundidade. A murta era consagrada à deusa Afrodite dos gregos e à Vénus dos romanos. Esta relação entre a murta e a divindade do Amor, faz que ainda hoje perdure a tradição, um pouco por toda a Europa, da presença de flores brancas de murta nos ramos de noiva ou em grinaldas honoríficas.
Como no caso do loureiro (Laurus nobilis), a origem mítica da murta, encontra-se nas “Metamorfoses”, Livro X, de Ovídio. Embora no mito “Metamorfose de Myrrha”, a planta citada seja a mirra, com a qual se honravam os deuses. No entanto, muitos autores consideram que Vénus, também apelada Múrcia, a planta na qual se transformou Myrrha, não é a mirra que cresce na Arábia, mas a murta que existe na ilha de Chipre, onde vivia Myrrha.

Adónis é filho da relação incestuosa de Mirrha com seu pai, rei de Chipre. Ao reconhecer o erro, Mirrha pede aos deuses que a castiguem. A deusa Afrodite, compadecida, acaba por a transformar num pé de mirra para que escape ao seu trágico destino. Dez meses mais tarde, do seu tronco, nasceria Adónis.

 

 

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