Quercus rotundifolia – Azinheira

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Azinheira

 

Família: FAGACEAE

Nome científico: Quercus rotundifolia Lam.

Publicação: 1785

Grupo: folhosa perene

Nomes vernáculos: azinheira, azinho, sardão, sardoeira, azinheira-de-bolota-doce

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Hábito: a azinheira é uma árvore perenifólia e monóica de porte modesto, 8 a 15 m, atingindo por vezes 20 m de altura, com copa ampla, ovóide ou arredondada. Folhas oblongas-lanceoladas, persistentes; ramos oblíquos, sinuosos com ramificação densa e jovens raminhos felpudos. O tronco curto e tortuoso, tem ritidoma acinzentado ou pardo.

 

Folhas: rígidas e coriáceas, alternas, simples, ovadas e oblongo-lanceoladas, têm cerca de 5 cm de comprimento, com 5 a 8 pares de nervuras secundárias e ápice obtuso, página superior verde-escuro-acinzentado brilhante e página inferior com denso indumento cinzento-amarelado. A margem do limbo pode ser espinescente, quando jovem, e inteira ou dentada, quando adulta. Persistem na árvore 3 a 4 anos. A forma das folhas é muito variável, dependendo do indivíduo, idade, e raminho de crescimento.

Flores: floração de Março a Junho. As flores masculinas amarelas, formam amentilhos de 5 a 13 cm, aparecem em grandes quantidade nos extremos dos ramos; as flores femininas de menor quantidade, verde-acinzentadas e peludas, dão no Verão lugar a pequenas bolotas.

Frutos: o fruto da azinheira é a glande de forma oblongo-cilíndrica, pontiaguda, glabra, de 2-3 cm de comprimento, é formado por aquénio e cúpula hemisférica com curtas escamas planas, imbricadas mais ou menos aplicadas e tomentosas que cobre menos de metade do fruto; possui um curto pedúnculo lenhoso. A frutificação dá-se de Outubro a Dezembro. As bolotas perdem rapidamente a capacidade de germinar.

Frutifica a partir dos 8-10 anos e regularmente depois dos 15-20 anos.

Gomos: globulosos e pequenos.

Ritidoma: liso de cor acinzentado quando jovem passa a ser pardo ou castanho-enegrecido com a idade e gretado longitudinalmente em pequenas placas rectangulares.

 

Habitat: « árvore de plena luz » intolerante ao ensombramento (heliófila) que possui grande plasticidade ecológica. Rústica, aceita todo o tipo de substrato, embora seja sensível ao frio, tolera os Verões secos e a baixa pluviosidade, bem como altitudes elevadas, até 1500 m.

É indiferente ao tipo de solo, excepto os arenosos, vegeta em solos esqueléticos, pedregosos e rochosos, pobres em húmus, com humidade média ou fraca.

Elevada longevidade de vários séculos, podendo ultrapassar os 1000 anos.

Propagação: por semente, renova bem pelo cepo e pimpolha facilmente.

 

Distribuição geográfica: originária  do sul da Europa, é espontânea em quase toda a Bacia do Mediterrâneo.

Em Portugal: é comum em todo o território, sobretudo nas zonas mais continentais e mediterrânicas, mas ausente das zonas norte e centro sob influência atlântica ou alpina. Espontânea ou cultivada desde a Terra-Quente transmontana até ao Algarve, tem maior frequência a sul do Tejo onde a azinheira adquire importância de relevo. No Alentejo interior ocupa extensos povoamentos denominados « montados de azinho » geralmente em associação com uma outra cultura ou pastagem, assim como em povoamentos mistos com sobreiro.

 

Usos: madeira muito densa e compacta, deforma-se quando seca; difícil de trabalhar embora suporte o polimento, daí que sirva para fabrico de pequenas peças para pavimentos.

A lenha de azinho possui um alto valor calorífico, dando excelente carvão.

 

DUAS ESPÉCIES, OU DUAS SUBESPÉCIES DE AZINHEIRAS!

Sem entrarmos no debate que continua na comunidade botânica acerca da existência ou não, de duas subespécies de “azinheira” (Quercus ilex subsp. ilex e Quercus ilex subsp. rotundifolia), ou de duas espécies distintas (Quercus ilex e Quercus rotundifolia). Damos alguns elementos próprios de cada uma:

azinheira-de-folhas-de-louro

Quercus ilex subsp. ilex ou Quercus ilex – porte de 15 a 20 m,  pode atingir 27 m de altura, fuste direito e pouco ramificado, folhas oblongo-elípticas, com 7 a 14 pares de nervuras secundárias e ápice mais ou menos pontiagudo. É indiferente ao pH do solo, embora os prefira calcários em zonas mais frias, tem preferência por climas temperados com seca estival curta. Não é espontânea entre nós. Encontra-se na parte oriental de Espanha, sul de França, e restante Mediterrâneo Oriental.

azinheira

Quercus ilex subsp. rotundifolia ou Quercus rotundifolia – tem porte mais modesto, 8-15 m de altura, atingindo raramente os 20 metros, o fuste pode ser direito ou torto, folhas oblongo-lanceoladas, com 5 a 8 pares de nervuras secundárias e ápice obtuso. Indiferente ao pH do solo prefere clima mediterrânico com seca prolongada, contenta-se com precipitações anuais entre 300 a 550-600 mm. É espontânea em Portugal, Espanha e Norte de África.

De notar, que a azinheira “Quercus rotundifolia” possui bolotas quase sempre doces. Estas foram utilizadas noutros tempos, como alimento humano nas províncias do Sul. Eram misturadas com trigo e outros cereais para preparar pão em anos de escassez, sendo também assadas como as castanhas. Actualmente, devido à nova procura de produtos saudáveis e biológicos, isentos de glúten e antioxidantes, é possível encontrar esta farinha para cozinhar, preparar pão e doçaria. Nos montados, as bolotas continuam a servir de alimento para os animais e sobretudo para os porcos denominados de « montanheira »; porcos de cor preta, que produzem o excelente e único presunto «pata-negra».

O.M.


O MONTADO

«A herança de um sistema sustentável»

É um sistema criado pelo homem, com grande quantidade de herbáceas e com uma densidade de árvores relativamente baixa coexistindo com pastagens e outros usos agrícolas. Os montados  são um sistema de exploração agro-silvopastoril (agricultura, produção de madeira e/ou de bolota, pastagem…) .

O Sistema do Montado Remonta à Revolução Neolítica

A origem dos Montados remonta a um passado longínquo, provavelmente à Revolução Neolítica, há cerca de 9.000 anos. O Homem terá começado a desbravar o bosque mediterrânico com queimadas. No século VI já se tinham expandido as áreas destinadas a culturas agrícolas bem como os prados, acompanhados por uma desmatação selectiva com protecção do sobreiro, naquilo que se poderia chamar os primeiros Montados. O gado criado antes da Reconquista cristã, nos séculos XII e XIII seria ovino, caprino e bovino e, posteriormente, suíno.

Segundo o relatório do Inventário Florestal Nacional, IFN6 de 2013, o sobreiro e a azinheira ocupavam em Portugal uma superfície total de 1.067.954 ha, dos quais 736.755 ha têm como espécie dominante o sobreiro e cerca de 331.179 ha, a azinheira. Nestes números encontram-se contudo incluídas, entre outras, as áreas de sobreiral e azinhal, que constituem áreas de floresta mais densa.

O Montado é uma criação humana sustentável e rico em biodiversidade

A azinheira integra o montado, constituído por diversas espécies arbóreas dominantes, como o sobreiro (Quercus suber), e em menor quantidade os carvalhos, cerquinho (Quercus faginea) e negral (Quercus pyrenaica). Estas espécies de quercíneas encontram-se em povoamentos puros ou mistos, com ocorrência de hibridação entre elas. Os montados de sobro integram também o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e o pinheiro-manso (Pinus pinea).

O azinhal raramente forma habitats naturais em Portugal. O Montado é a consequência da acção humana que permite uma grande riqueza faunística e florística. Quando bem gerido, o montado é um bom exemplo da gestão ambiental e sustentável, benéfica para uma grande quantidade de espécies, como aves, mamíferos, abelhas, cogumelos. No caso dos montados de sobreiro, acresce ainda a possibilidade de exploração da cortiça. Preserva também valores sociais, económicos e históricos das populações. Nos últimos anos tem sido valorizado por actividades turísticas relacionadas com a Natureza, como o turismo rural.

A superfície do Montado de Azinho está em queda

Os montados de azinho estão no entanto, em regressão, tendo sofrido um decréscimo acentuado na segunda metade do último século. Se nas décadas 1950-60 existiam cerca de 600 000 hectares de montado de azinho, em 2013 só restavam 331.179 ha. Com a laminação da área de distribuição desta espécie assistimos a uma baixa da biodiversidade e das paisagens tradicionais do nosso País, mas também se perde uma parte da herança de populações que descobriram há muito, uma forma de utilizar recursos naturais de forma sustentável; conceito valorizado pela necessidade de sobrevivência dos humanos no respeito da biodiversidade.

Por fim, devido à sua importância, estas árvores possuem um estatuto de espécie protegida em Portugal, sendo necessário pedir uma autorização para o seu abate.

O.M.


De acrescentar, que as azinheiras são comummente plantadas como árvores ornamentais, pois proporcionam uma agradável sombra.

Resiste à poluição urbana.

 

 

 

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