Se eu, ainda que ninguém

Raízes
27 mars 2016
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27 mars 2016

Se eu, ainda que ninguém

Se eu, ainda que ninguém,
Pudesse ter sobre a face
Aquele clarão fugace
Que aquelas árvores têm,

Teria aquela alegria
Que as coisas têm de fora,
Porque a alegria é da hora;
Vai com o sol quando esfria.

Qualquer coisa me valera
Melhor que a vida que tenho –
Ter esta vida de estranho
Que só do sol me viera!

16-9-1933
Fernando Pessoa (1888-1935),
Poesias Inéditas (1930-1935), Ática, 1955 (imp. 1990).