Poema da Buganvília

poema das árvores
27 Março 2016
Poema das folhas secas de plátano
27 Março 2016
poema das árvores
27 Março 2016
Poema das folhas secas de plátano
27 Março 2016

 

Poema da Buganvília

Algum dia o poema será a buganvília
pendente deste muro da Calçada da Graça.
Produz uma semente que faz esquecer os jornais, o emprego e a família,
e além disso tudo atapeta o passeio alegrando quem passa.

Mas antes desse dia há-de secar a buganvília
e o varredor há-de levar as flores secas para o monturo.
Depois cairá o muro.
E como o tempo passa
mesmo contra a vontade,
também há-de acabar a Calçada da Graça
e o resto da cidade.

Então, quando nada restar, nem o pó de um sorriso
que é o mais leve de tudo que se pode supor,
será esse o momento de o poema ser flor,
mas já não é preciso.

 

António Gedeão (1906-1997),
in « Poemas Escolhidos », Edições JSC, 1997.