Lá fora onde árvores são

O jacarandá florido
27 mars 2016
O luar atravez dos altos ramos,
27 mars 2016

    LÁ FORA ONDE ÁRVORES SÃO

    Lá fora onde árvores são 
    
O que se mexe a parar 
 
   Não vejo nada senão, 
    Depois das árvores, o mar.

    É azul intensamente,
   
Salpicado de luzir, 
   
E tem na onda indolente
   
Um suspirar de dormir.

    Mas nem durmo eu nem o mar,
  
  Ambos nós, no dia brando,
    E ele sossega a avançar
    E eu não penso e estou pensando.

                                  14-8-1932
Fernando Pessoa (1888-1935),
in « Poesias Inéditas » (1930-1935), Ática, 1955 (imp. 1990).