Há um murmúrio na floresta,

Gnomos do luar que faz selvas
27 mars 2016
O jacarandá florido
27 mars 2016

HÁ UM MURMÚRIO NA FLORESTA,

Há um murmúrio na floresta,
Há uma nuvem e não já.
Há uma nuvem e nada resta
Do murmúrio que ainda está
No ar a parecer que há.

É que a saudade faz viver,
E faz ouvir, e ainda ver,
Tudo o que  foi e acabará
Antes que tenha  o que esquecer
Como a floresta esquece já.

    (8-3-1931)
Fernando Pessoa (1888-1935),
in « Poesias Inéditas » (1930-1935), Ática, 1955 (imp. 1990).