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Sorveira, Sorva

 

 

 

Família: ROSACEAE

Nome científico: Sorbus domestica L.

Publicação: 1753

Grupo: folhosa caduca

Nomes vernáculos: sorveira, solveira, sorva

Hábito: folhosa caduca, podendo atingir 20 m ou mais, mas geralmente entre 10 e 12 m, frequentemente tem porte arbustivo; copa piramidal quando jovem, depois arredondada a abobada pouco densa; possui tronco recto com ritidoma liso, cinzento e lenticelado, tornando-se depois fendido, com finas placas rectangulares pardo-castanho-cinzento; pernadas e ramos patentes; raminhos jovens verde-acastanhados com indumento sedoso, glabros depois e cobertos de lenticelas.

 

Folhas: caducas, alternas, compostas, imparipenadas de 13 a 21 folíolos oblongo-lanceolados, havendo um terminal; com 10-22 cm de comprimento por 5-12 cm de largura, pecíolo tomentoso e robusto; folíolos com 3-6 cm de comprimento por 1 cm de largura, margens serradas nos 2/3 superiores em direcção do ápice, pubescentes na face inferior primeiro, depois com as duas faces glabras, sendo a superior verde-escuro e mate; no Outono têm coloração amarelo-ocre a vermelho. Cores que fazem da sorveira, se isolada, uma árvore notável.

Flores: abundante floração branca ou creme em Abril e Maio de 35 a 75 flores hermafroditas, dispostas em corimbos compostos terminais, piramidais, de ± 10 cm de largura, pouco ramificados; flores com pedicelos pubescentes de 1-1,5 cm de diâmetro com receptáculo tomentoso, 5 pétalas livres, até 5 mm, glabras, sépalas tomentosas nas duas faces; ovário com 5 carpelos inteiramente unidos, 5 estilos livres; 15-20 estames com anteras esbranquiçadas.

Frutos: sorvas piriformes ou pomiformes agrupadas, de 2 a 4 cm, com numerosas lentículas pardas; verdes primeiro, ficam quando maduras com coloração vermelha na face exposta ao sol; coroadas pelo cálice; contendo cada fruto 2 a 5 sementes. Frutificação de Setembro a princípios de Outubro. Os frutos não permanecem na árvore depois da queda das folhas; comestíveis, mas adstringentes antes de sorvados, são muito apreciados pelos mamíferos que disseminam a espécie.
Frutifica todos os 2-3 anos a partir de ± 20 anos.

Gomos: ovóides de 5-10 mm, verdes, brilhantes, glabros e viscosos, com 2 a 4 escamas ciliadas.

Ritidoma: liso, mate, cinzento com lenticelas salientes quando juvenil. Rapidamente passa a castanho-alaranjado ou acinzentado com numerosas fissuras; forma pequenas tiras finas que acabam por se destacar facilmente.

 

Habitat: árvore rústica de plena luz, aprecia climas secos com mais de 600 mm de chuva. Prospera em solos mediamente húmidos, calcários, terrenos cascalhentos, pedregosos; aceita também substratos siliciosos, mas evita os solos encharcados ou muito húmidos; possui enraizamento pivotante profundo. Prefere planícies, colinas e montanhas baixas (andar basal e submontano, até 700-900 m), não indo além de 1400 m de altitude. Desenvolve-se bem em florestas abertas, clareiras e orlas de bosques decíduos, onde se encontra disseminada entre as espécies silvestres; nunca constitui povoamentos puros.
Suporta temperaturas para além dos 20° C negativos.

Propagação: por semente, por pimpolhos, ou viçosos rebentos de touça. Crescimento vigoroso, robusto; longevidade média de cerca de 200 anos, podendo ultrapassarr os 500 anos.

 

Distribuição geográfica: nativa da Europa meridional, foi espalhada pelo centro do continente. Distribui-se de Portugal à Ucrânia, passando pelo sul da Grã-Bretanha, Balcãs; Ásia ocidental (norte da Anatólia) e África do Norte (zonas montanhosas de Marrocos e Argélia). Em geral pouco comum, espécie cada vez mais rara.
Presente na parte oriental da P.I. Existe também no León, Orense, Trás-os-Montes, mas ausente da faixa ocidental, excepto Estremadura.

Em Portugal: árvore rara, outrora cultivada pelas suas sorvas comestíveis. Escapada das culturas, assilvestrou-se nas terras abandonadas. Presente em Trás-os-Montes e no Maciço Calcário Estremenho.


 

Usos: madeira de alto valor, cujo cerne é castanho-claro ou arroxeado, escurece quando oxida; muito densa de 800 a 900 kg/m3, compacta e resistente, é utilizada no fabrico de móveis de qualidade, folheados, marchetaria, embutidos, carpintaria, tornearia, prensas de lagares e peças resistentes à fricção.

A sorveira possui excelentes características ornamentais, devido à folhagem composta que no Outono adquire tons dourado-avermelhados. Às flores creme na Primavera, perfumadas e melíferas que atraem os insectos polinizadores. Por fim, aos frutos, pequena peras ou maçãs amareladas manchadas de vermelho, comestíveis. As sorvas podem ser consumidas cruas (depois de sorvadas ou secas) e foram utilizadas no fabrico de sidra ou de aguardente em algumas partes da Europa.

 

A sorveira no planalto das Cesaredas

Certas fotos apresentadas nesta página foram tiradas no Planalto das Cesaredas. Neste planalto encontramos aqui e ali sorveiras (Sorbus domestica). Algumas, raras, chegam aos 5-6 metros de altura o que é muito, pois o planalto tem sido regularmente e sistematicamente queimado depois de ter sido brevemente cultivado. No entanto, as sorveiras rebentam com grande vigor de touça, após os incêndios. Não lhes posso dizer se estas sorveiras têm origem indígena ou se são assilvestradas depois do abandono das vinhas, mas o certo, é que estão num meio que lhes convém. Basta observar a quantidade de pés existentes. Infelizmente muitos têm porte arbustivo, devido ao gado que aprecia particularmente os seus rebentos e folhas.

Contrariamente aos botânicos de alguns países europeus, os de cá, pouco têm investigado sobre esta árvore. O discurso geral é que se trata de uma árvore assilvestrada, o que significa “não autóctone”. Ora, enquanto estudos sobre a sorveira não forem realizados, a questão ficará em suspenso. Este tipo de argumento parece-me não ser suficiente, e mesmo que o seja! Tal facto não justifica um tão grande abandono dos pesquisadores nacionais por esta belíssima árvore. Partes do nosso território, tem aparentemente condições edafoclimáticas que podem perfeitamente suster a existência natural desta espécie, que nunca se tornará invasiva, devido às suas exigências ecológicas. A sorveira resiste mal à concorrência de outras árvores, razão pela qual é frequentemente encontrado em estações bastante ingratas (solos pedregosos, cascalhosos, terras pobres), onde a competição é menos intensa que nas estações mais férteis. No entanto, esta árvore aprecia os solos ricos, mas exige um monitoramento regular das suas concorrentes.

Actualmente botânicos austríacos e alemães, onde a sorveira é assilvestrada, e franceses, têm programas de estudo do genoma das sorveiras dos respectivos países. O objectivo será de apurar indivíduos com maior capacidade de resistência às mudanças climáticas e obter sementes híbridas (melhoramento do potencial genético) a partir de árvores seleccionadas pelas suas características florestais. Porém, não devemos deixar de lado o papel que a sorveira preenche na alimentação da fauna. As suas flores melíferas atraem inúmeros insectos, os seus frutos alimentam pequenos mamíferos, especialmente o texugo (Meles meles), que desempenha um papel fundamental na dispersão de sementes. Quanto a nós humanos, posso-lhes dizer que uma sorva bem madura é simplesmente uma delícia.

O texugo dissemina a sorveira

Ao citar o texugo, certas recordações vêm-me à mente. Lembro-me quando ainda pequeno, devia ter quatro ou cinco anos, a imagem de um texugo morto, suspenso pelas patas a uma vara que dois homens exibiam de aldeia em aldeia no redor do planalto, pedindo uns tostões aos populares por terem matado um “predador”. Lembro-me também da pelagem e do cheiro desconhecido para mim deste animal. Lembro-me do que os adultos diziam do texugo. Que devastava os ralos milheirais. Hoje compreendo que perante a pobreza geral, a morte de um animal que, ao que diziam, comia pontualmente uma parte das searas, fosse considerado como nefasto; só que esta parte do Oeste nunca fora uma grande produtora de milho. O milho cultivado servia sobretudo de alimentação às galináceas da casa. O ser humano partilha pouco. Apesar da caça gratuita que lhes é feita, segundo o que me fora dito pelos locais, o texugo ainda hoje existe no planalto, e bem-haja! Porque é certamente ao texugo que se deve a persistência da sorveira no planalto das Cesaredas
Como a sorveira desapareceu da economia rural há várias décadas, deixando no entanto traços nas memórias. Será certamente, no caso que nos interessa, o Planalto das Cesaredas, um trabalho de recolha a efectuar por associações e outras estruturas colectivas. Quanto mais rápido melhor, antes que os indivíduos depositários desta memória desapareçam.

Os romano espalharam a sorveira

A sorveira é uma pioneira nativa do Mediterrâneo que foi dispersa durante o Império Romano por toda a Europa. Os romanos apreciavam as sorvas, que consumiam, dando-as também como alimento aos cavalos durante o Inverno. A capacidade de naturalização desta espécie fora da sua área natural fez que ao ocupar terras mais a norte e mais húmidas com solos mais ricos, chega a duplicar a circunferência dos troncos. Na floresta, atinge o tamanho das maiores árvores. A sorveira facilmente se aclimata nas diferentes regiões. Com as actuais migrações de plantas nas zonas de maior repartição devido às mudanças de temperatura e pluviosidade, não terá dificuldades em integrar novas áreas; de facto a sorveira suporta os Verões secos; pode substituir as espécies de árvores que deixarão de estar no seu nicho ecológico. No entanto, por todo o continente esta espécie está a desaparecer. A nós de fazer o possível para que tal não aconteça, pois possui qualidades competitivas no sistema agro-florestal

O.M.

 

o sistema agro-florestal


O sistema agro-florestal consiste na gestão de recursos naturais. Dinâmico e ecológico, integra as árvores às culturas e à paisagem rural, diversificando e sustentando a produção para melhorar as condições sociais, económicas e culturais das populações, inclui igualmente a biodiversidade. Em Portugal existe o montado, prática de cultura mista ou agro-silvopastoril no Alentejo.
Concretamente, associam-se várias culturas agrícolas: cereais, vinhas ou pastagens, com árvores na mesma parcela (plantadas ou reduzindo o desbaste em lotes arborizados). A produção florestal é diferida a longo prazo, pois o ciclo de vida desta é diferente do das culturas geralmente anual.
No caso de parcelas com culturas agrícolas associadas a árvores florestais corresponde a actividade agro-florestal; em parcelas arborizadas com vegetação rasteira trata-se do sistema silvopastoril.

 

Utilização de sorveiras no sistema agro-florestal

Exemplo de prática agro-florestal

Vantagens da sorveira no sistema agro-florestal

Diversificação das actividades dos agricultores, com criação de uma herança valiosa, sem interromper a renda das parcelas plantadas. Papel protector das culturas intercalares, inclusive para a fauna: efeito de barreira corta-vento ou quebra-ventos; protege do sol, do granizo, fixação da terra, estimulação da microfauna e microflora dos solos. Recuperação pelas raízes profundas de uma parte dos nutrientes lixiviados ou drenados; enriquecimento de matéria orgânica do substrato, da manta morta e por fim das raízes que facilitam a infiltração das águas em profundidade.

Ora a sorveira responde a estes critérios: soalheira, possui uma copa pouco densa, abriga mas deixa passar luz em suficiência, possui enraizamento profundo, as suas folhas degradam-se facilmente, a sua madeira é das mais valiosas do mercado. No que diz respeito à biodiversidade, tem flores muito melíferas e frutos saborosos ricos em vitaminas. Evidentemente que não é a única espécie a favorecer, mas é certamente uma candidata de valor a ter em conta nas futuras práticas agrícolas. Se o atavismo for ultrapassado!

No Oeste, em que os Verões são cada vez mais escaldantes, com um ciclo pluvioso incerto, manter uma viticultura ou fruticultura de qualidade e tradicional, requer imaginação. As sorveiras, ou outras espécies semelhantes, plantadas entre as cepas protegeriam os vinhedos do sol abrasador com a sua folhagem pouco espessa. Porque o futuro é agora que se prepara.

O.M.

 

Cartografia EUFORGEN da sorveira, Sorbus domestica

Mapa de distribuição da sorveira no continente europeu

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Anedótico

Ao que parece, as sorvas eram apreciados pelos gregos na Antiguidade. Platão refere-se à sorva em « O Banquete », no discurso de Aristófanes, e evoca um processo de conservação deste fruto, sem entrar em pormenores.

 

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