Ouço sem ver, e assim, entre o arvoredo,

Nos Jardins
27 mars 2016
Os Paraísos Artificiais
27 mars 2016

OUÇO SEM VER,  E ASSIM, ENTRE O ARVOREDO,

Ouço sem ver, e assim, entre o arvoredo, 
Vejo ninfas e faunos entremear 
As árvores que fazem sombra ou medo 
E os ramos que sussurram de eu olhar. 

Mas que foi que passou? Ninguém o sabe. 
Desperto, e ouço bater o coração – 
Aquele coração em que não cabe 
O que fica da perda da ilusão.

Eu quem sou, que não sou meu coração? 

Fernando Pessoa (1888-1935)
« Poesias Inéditas » (1930-1935), Ática, 1955 (imp. 1990).