Oriana

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ORIANA

 

Era uma vez uma fada chamada Oriana.

Era uma fada boa e era muito bonita. Vivia livre, alegre e feliz dançando nos campos, nos montes, nos bosques, nos jardins e nas praias.

Um dia a Rainha das Fadas chamou-a e disse-lhe:

– Oriana, vem comigo.

E voaram as duas por cima de planícies, lagos e montanhas. Até que chegaram a um país onde havia uma grande floresta.

– Oriana – disse a Rainha das Fadas – entrego-te esta floresta. Todos os homens, animais e plantas que aqui vivem, de hoje em diante ficam à tua guarda. Tu és a fada desta floresta. Promete-me que nunca a hás-de abandonar.

Oriana disse:

– Prometo.

E daí em diante Oriana ficou a morar na floresta. De noite dormia dentro do tronco dum carvalho. De manhã acordava muito cedo, acordava ainda antes das flores e dos pássaros. O seu relógio era o primeiro raio de Sol. Porque tinha muito que fazer. Na floresta todas precisavam dela. Era ela que prevenia os coelhos e os veados da chegada dos caçadores. Era ela que tomava conta dos onze filhos do moleiro. Era ela que libertava os pássaros que tinham nas ratoeiras.

À noite, quando todos dormiam, Oriana ia para os prados dançar com as outras fadas. Ou então voava sozinha por cima da floresta e, abrindo as suas asas, ficava parada, suspensa no ar entra a terra e o céu. À roda da floresta haviam campos e montanhas adormecidas e cheios de silêncio. Ao longe viam-se as luzes de uma cidade debruçada sobre o rio. De dia e vista de perto a cidade era escura, feia e triste. Mas à noite a cidade brilhava cheia de luzes verdes, roxas, amarelas, azuis, vermelhas e lilases, como se nela houvesse uma festa. Pareciam feitas de opalas, de rubis, de brilhantes, de esmeraldas e safiras.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
in « A Fada Oriana », 1958

 

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