Entre o luar e a folhagem,

Entre o luar e o arvoredo,
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Entre o luar e a folhagem

Entre o luar e a folhagem,
Entre o sossego e o arvoredo,

Entre o ser noite e haver aragem

Passa um segredo.

  Segue-o minha alma na passagem.

 

Ténue lembrança ou saudade,
Princípio ou fim do que não foi,
Não tem lugar, não tem verdade.
Atrai e dói.

  Segue-o meu ser em liberdade.

 

Vazio encanto ébrio de si,
Tristeza ou alegria o traz ?

O que sou dele a quem sorri ?

Nada é nem faz.

  Só de segui-lo me perdi.

19-8-1933
Fernando Pessoa (1888-1935),
in « Poesias », Ática, 1942 (15ª ed. 1995).