Como um vento na floresta

Bailemos nós ja todas tres, ai amigas,
27 mars 2016
Dos castanheiros a folhagem árida
27 mars 2016

 

Como um vento na floresta

Como um vento na floresta.
Minha emoção não tem fim.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.

E como entre os arvoredos
Há grandes sons de folhagem,
Também agito segredos 
No fundo da minha imagem.

E o grande ruído do vento
Que as folhas cobrem de som
Despe-me do pensamento :
Sou ninguém, temo ser bom.

30/09/1930
Fernando Pessoa (1888-1935),
in “Poesias Inéditas” (1919-1930),  Ática, 1956 (imp. 1990).