Árvores do Alentejo

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As Árvores e os Livros
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ÁRVORES DO ALENTEJO

Horas mortas… curvadas aos pés do Monte

A planície é um brasido… e, torturadas,

As árvores sangrentas, revoltadas,

Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol postonte

A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,

Esfíngicas, recortam desgrenhadas

Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,

Almas iguais à minha, almas que imploram

Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:

– Também ando a gritar, morta de sede,

Pedindo a Deus a minha gota de água! !

Florbela Espanca (1894-1930),
in « Charneca em Flor », 1931.

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