A Fermosura Fresca Serra,

Felizes, cujos corpos sob as árvores
27 mars 2016
Frutos, dão-os as árvores que vivem,
27 mars 2016

A FERMOSURA DESTA FRESCA SERRA

A fermosura desta fresca serra,
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do Sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;

Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos of’rece,
Me está se não te vejo magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias, mor tristeza.

Luís Vaz de Camões, (1524-1580), in “Sonetos”.